Maria, uma linda secretária!
Maria, há pouco tempo, era apenas uma garotinha. Agora já tem 18 anos. 1,75m, 65 kg, cabelos pretos longos e lisos, olhos castanhos, linda, perfeita.
E quem diria que a beleza de Maria poderia ser uma dificuldade para ela conseguir emprego? Pois é, acontecia com Maria.
Todas as vezes que ela chegava nas entrevistas já sentia os olhares afoitos e sedentos, pareciam devorá-la por inteiro. Era constrangedor.
Mas Maria precisava trabalhar, nasceu linda, porém sem dinheiro. E não queria se sujeitar a "vida fácil", entre aspas mesmo, de ganhar dinheiro deitada.
Então, ela sempre respirava, se vestia o mais formal e tampada que conseguia, não dava qualquer abertura para cantadas indesejadas, e ia, de entrevista em entrevista, na luta pelo primeiro emprego.Queria crescer de forma honesta e pelos próprios méritos, jamais pelo teste do sofá.
Após dezenas de entrevistas, finalmente passou em uma. Foi contratada como secretária em uma concessionária de veículos.2ª a 6ª, 2 horas de intervalo, 1.500,00 de salário. Emprego dos sonhos para um primeiro emprego. Maria finalmente se soltou, e o riso ganhou seu rosto. A boca parecia até ser maior do que a cara.
Chegou no primeiro dia para trabalhar. Estava tão empolgada que nem percebeu os constrangedores olhares a despindo e a devorando.
Os colegas e o gerente serviam café para ela, levavam água, faziam questão de ensinar o serviço. Não demorou 30 dias e começaram os primeiros convites para sair. Maria sentiu um calafrio, sabia onde aquilo tudo poderia parar. Ainda assim preferiu recusar. Uma desculpa, duas, três, repetia a primeira, às vezes falava abertamente que não queria.
Um dia foi por conta própria buscar água na cozinha, sentiu um corpo encostar levemente no seu e uma mão deslizando do seu cotovelo até a sua própria mão:
-Maria, meu amor! Deixa que eu pego essa água pra você!
Se desvencilhou daquela situação em um salto.
No dia seguinte, Maria chegou séria para trabalhar, cara ruim mesmo, com uma roupa ainda mais formal e tampada. A saia secretária abaixo do joelho virou uma calça social preta. A maquiagem antes leve e elegante ganhou tons fortes e fechados, da cor do humor dela. Mal conseguiu dar bom dia.
Perguntaram o que ela tinha, se enfrentava problemas em casa,e ela só respondeu: - Nada!
Então veio o gerente:
-Ô meu amor, o que é que você tem hoje? Porque está com essa carinha? Seu namorado brigou com você? Deixa eu te falar, vamos sair, beber alguma coisa, jogar conversa fora, vou fazer você se soltar, sei que você gosta. Vou tirar um sorriso dessasua carinha triste.
Maria nem respondeu. Apenas se levantou, pegou um café, voltou para a mesa, ligou o computador e começou a trabalhar. Sua estratégia deu certo. Na verdade não.
Tinha sido apenas uma manhã de paz. Às 11:30. O bendito gerente:
-E ai meu amor, fiz uma reserva para almoçarmos juntos hoje.
De supetão, fervilhando, rosto vermelho, voz trêmula, mas firme, ela respondeu:
-Olha só seu Edvaldo, não estou interessada. Eu vim aqui apenas para trabalhar, receber meu pagamento, e ir embora. Não estou nem um pouco a fim de me relacionar com quer que seja. Se o senhor puder parar, eu já estou ficando constrangida.
- Mas Maria, meu amor, eu tenho muito para te oferecer. Posso fazer você passar da experiência, subir de cargo na empresa, aumentar seu salário, e muito mais. Não é tão ruim assim, é?
Maria apenas soltou um rum, encolheu os ombros, e pareceu entrar na tela do computador, de tão distante que tentou ficar do tal gerente.
Chegando em casa, abraçou sua mãe e chorou, mas não conseguiu contar.
No dia seguinte, lá vai Maria novamente. 07:45, bateu seu ponto e passou primeiro pela cozinha, quando estava saindo, deu de cara com Seu Edvaldo, que a olhou de cima embaixo, e já soltou:
- Maria, deixa eu te falar, aqui é uma concessionária de veículos, não um prédio da justiça. Você precisa vir com roupas mais leves, mostrar um pouco das pernas, um pouco mais de decote, um batom vermelho, tirar essa expressão de ódio da cara, sorrir, conquistas os clientes, tá bom minha filha?
Maria não respondeu, e, quando ia saindo, foi puxada pelo braço: ah, presta atenção em uma coisa que vou te dizer, eu posso te dar tudo, mas também posso transformar sua vida em um inferno. A escolha é sua.
Maria tremia. Garganta seca. Toda sua força era para não chorar e mostrar fraqueza para aquele homem.
Não aguentou, foi para o banheiro e ligou para sua mãe. Que a aconselhou a pedir demissão.
Maria não quis. Iria enfrentar aquele homem.
Enviou um email para a ouvidoria da empresa. Narrou tudo o que estava acontecendo. Nunca teve uma resposta sequer.
Contou o acontecido para a supervisora de RH, igualmente sem resposta.
Quando estava quase completando o fim do período da experiência, seu Edvaldo a chamou para uma conserva.
- Maria, olha só. Sua experiência está chegando ao fim. Sei que você precisa desse emprego. Você já pensou nas coisas que te falei?
Ela simplesmente balançou a cabeça de forma negativa.
E ele continuou:
- Pois pense. Seu tempo e minha paciência estão acabando. Depois não reclame que não teve sorte.
Maria quase cedeu, a vida em casa era difícil. Será que não valeria a pena tentar? Foi falar com sua mãe. Pessoa experiente, vivida, e com quem tinha ampla liberdade. Foi tirada de ideia de imediato.
E mais do que isso, sua mãe ligou para um advogado que já tinha cuidado de uma causa dela.
O advogado explicou que Maria estava sendo vítima de assédio sexual, oque é ilegal, caracteriza crime, e que ela poderia entrar na justiça.
E assim fizeram.
Maria registrou um boletim de ocorrência contra o Sr. Edvaldo e depois entrou com um processo na justiça contra a empresa.
Na justiça, apresentou gravações de áudio das conversas com o Sr. Edvaldo, duas colegas de trabalho confirmaram para o juiz o comportamento do gerente, e Maria ainda provou que nunca obteve retorno das reclamações feitas na ouvidoria e no RH.
O juiz entendeu que a empresa tinha a obrigação de investigar o caso e adotar providências para impedir o assédio, garantindo um ambiente de trabalho saudável, o que não o fez e, em razão da negligência, e da gravidade dos fatos acontecidos, a condenou a pagar indenização por danos morais para Maria, além das sessões de terapia, para que Maria se recuperasse dos traumas causados pelo assédio.
Anos depois, saiu a decisão criminal. Seu Edvaldo foi condenado por ter constrangido Maria com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se da sua condição de superior hierárquico, inerente ao exercício do emprego, cargo ou função, conforme prevê o Código Penal Brasileiro.
Essa não é uma história verdadeira, e os nomes aqui colocados são fictícios. Qualquer semelhança com alguém que você conheça, é mera coincidência.
Porém, o contexto apresentado é para te mostrar, de uma forma bastante clara e intuitiva, como o assédio sexual no trabalho costuma ocorrer, quais são as consequências, e quais são os direitos da vítima.
Você tem o direito de trabalhar sem ser vista como objeto sexual, sem parecer que, por onde passa, está à procura de um homem.
Se
você é vítima ou conhece alguém vítima de assédio, não se cale. Sua vida e sua
saúde mental valem mais do que o seu emprego. Estamos com você nessa!
Assédio
sexual não!