Quando o Ambiente de Trabalho se Torna Insuportável

"Putz! Tenho que voltar para aquele lugar escroto de novo?"; "Aneim, amanhã já é segunda, não aguento mais ir trabalhar naquele lugar"; "Misericórdia Deus, segundou de novo, e eu tenho que aguentar aquela loucura no meu trabalho".

Essas são algumas frases que já ouvi de clientes desesperados com seus empregos. Provavelmente, você já falou algo parecido ou já ouviu algum colega de trabalho falar.

Quando acontece, é um sinal de alerta, uma luz vermelha indicando que as coisas no seu emprego não vão bem, e que isso está causando estresse agudo e gerando uma influência desatrosa sobre a sua vida, o que vai acabar te adoecendo, física e emocionalmente.

Ainda é bastante comum pessoas abrirem empresas sem conhecimento suficiente de gestão, pessoas serem nomeadas para cargos de gestão sem serem qualificadas para tal, e uma cultura miserável, retrógada, atrasada, de que os empregados devem ser tratados a pão e água, com pau e ferro, sem qualquer regalia.

Esse pensamento cria um ambiente de trabalho em que não há preocupação com a sáude e bem estar do empregado. Aliás, para muitas empresas, o empregado é apenas mais uma peça na busca desenfreada pelo lucro. Adoeceu, machucou, morreu, troca um CPF pelo o outro, e vida que segue, ou melhor, lucros que seguem.

É lógico que ambientes assim geram uma pressão excessiva nos empregados, estímulo de concorrência acirrada entre colegas de trabalho, metas abusivas ou mesmo inalcançáveis, broncas na frente de outras pessoas, gritos, tratamentos ríspidos, ameaças constantes de demissão, humilhações, pagamento de prendas degradantes, e uma série de outros exemplos que eu poderia gastar mais 3 ou 4 parágrafos só citando.

Isso faz o ambiente de trabalho se tornar insuportável.

E ai cada empregado vai reagir de uma forma. Uns pedem demissão, outros adoecem e ficam afastados pelo INSS, outros aguentam o quanto conseguem, caladinhos, com medo de perder o emprego, outros entram na justiça, e por ai vai.

E qual a melhor solução?

Não existe quem possa te falar a melhor solução. Se você é daqueles que não gosta de confusão, não quer lutar pelo seu direito, acha melhor só sair e se recolocar no mercado, cumprindo com suas obrigações, está tudo certo. Mas você pode ser daqueles que entende que isso te gera direitos, e achar que não é justo pedir demissão, abrindo mão dos seus direitos, por algo que é culpa da empresa. De um jeito, ou de outro, está tudo certo. O importante é que sua consciência e sua saúde fiquem bem.

Eu, particularmente, acredito que esses comportamentos devem ser punidos, e se eu fosse empregado, com certeza entraria na justiça. 

Para mim é difícil aceitar que uma empresa admite um ser humano como empregado e o trata como lixo, pior do que um animal, humilhando-o como se nada fosse. Fico intrigado com essa ideia de que a empresa, quando admite, "compra a vida da pessoa, podendo fazer o que quiser com ela".

O respeito deve ser a base de tudo, e o empregado deve ser tratado de forma respeitosa também. Inclusive, a Constituição Federal, lei de maior peso no Brasil, diz que a dignidade da pessoa humana e do trabalhador é fundamento da própria República Brasileira, tamanha a importância.

Além disso, o art. 7º, XXII, da mesma Constituição Federal, diz que o empregador deve utililzar todos os meios possíveis para proporcionar um ambiente de trabalho seguro e saudável.

Agir como eu indiquei nesse texto passa longe de significar obediência à lei. E isso não é justo. Eu, você, seus pais, seus irmãos, seus amigos, precisamos cumprir a lei, mas a empresa não precisa? Ela pode tornar o ambiente de trabalho insuportável, adoecer seus empregados, e ficar por isso mesmo, sem qualquer consequência?

Claro que não. A lei vale para mim, para você, e para as empresas também.

E vou ainda mais adiante. O art. 118 da Lei 8.123/1991 considera acidente de trabalho o adoecimento do empregado por causa do trabalho. Assim, quando o trabalho adoece a mente, ou quando adoece o corpo, ou até os dois juntos, isso é considerado acidente de trabalho, e gera para o empregado uma série de direitos, como indenização por danos morais, ressarcimento das despesas que teve com consultas, exames, remédios, salários do período em que o empregado esteve encostado pelo INSS, etc.

Além disso, quando o ambiente de trabalho se torna insuportável por culpa do empregador, seja por provocar o caos, seja por não fazer nada para impedir, o empregado tem o direito de sair do emprego sem pedir demissão e sem perder seus direitos, entrando com um processo na justiça de rescisão indireta.

Certo é que, se o seu trabalho está te deixando doente, você precisa reagir e se cuidar. E não adianta fazer inúmeros tratamentos, gastar rios de dinheiro, se você continuar sendo agredido, humilhado, destradado. É como tomar veneno, ir ao médico, melhorar, voltar para casa e tomar veneno novamente. 

E, aproveitando que estamos falando de adoecimento emocional ligado ao trabalho, publiquei um texto aqui no blog, sobre depressão como doença do trabalho. Recomendo que você leia, te dará uma base ainda maior de conhecimento sobre a situação que te trouxe até aqui. Boa leitura!